quarta-feira, 19 de novembro de 2014

CÍRIO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO 2014

Conheça um pouco da história do Círio de Nossa Senhora da Conceição realizado em Santarém

(Kedma Araújo - João Machado Do G1 Santarém)
No domingo (23/11/2014), Santarém, no oeste do Pará, realiza umas das maiores manifestações religiosas da região, o Círio de Nossa Senhora da Conceição.
Círio nos moldes atuais é realizado desde 1919.
A origem das homenagens à padroeira está relacionada com a fundação do município.
De acordo com estudiosos do assunto, o fundador da cidade padre João Felipe Bettendorff construiu a igreja da Missão do Tapajós e dedicou à santa, de quem era devoto.
Alguns historiadores apontam que a princípio as homenagens à padroeira dos santarenos eram conhecidas como “Círio da Bandeira”, em qual durante a procissão se levava um estandarte com uma efígie da santa - representação numa moeda, pintura ou escultura -  que percorria algumas ruas de Santarém. Tal manifestação teria dado origem ao que atualmente se chama "Círio de Nossa Senhora da Conceição".

Nas primeiras horas da manhã, uma banda de música percorria as ruas da cidade e foguetes anunciavam a festa (Padre Sidney Canto no Livro 'A festa da padroeira  de Santarém).

Segundo pesquisadores e historiadores da região, o Círio como é realizado nos dias atuais, acontece desde 28 de novembro de 1919. Portanto este ano, será a 96ª edição do evento religioso.
No livro “A festa da padroeira de Santarém”, o padre Sidney Canto retrata que o Círio era esperado com ansiedade pela população da cidade. Nas primeiras horas da manhã, uma banda de música percorria as ruas da cidade e foguetes anunciavam a festa. “Com uma frondosa alvorada que, muitas vezes, era acompanhada pelo toque dos sinos das igrejas de São Raimundo, da Catedral e de São Sebastião, na época em que a zona urbana de Santarém não passava da Mendonça Furtado e da Barjonas de Miranda”, conta.
Segundo Sidney Canto, em 1957 e 1958, o Círio não teve banda de música e nem foguetes. “Isso por uma ideia do clero de que o Círio deveria ser feito apenas com oração e sem ‘queimar dinheiro com fogos’”, explica.
Canto comenta que a participação do clero na procissão da festividade começou a diminuir no período 1960 e 1980. Os padres retornaram a participar somente na década de 1990. “O Círio era visto, por alguns padres da Diocese, como ‘alienação’, ‘peleguismo’, ‘devocionismo’. A partir da década de 1990, os padres retornaram a participar da festa que passou a sair do caráter simplesmente paroquial e a ser pensada como uma festa da Diocese”.

O Círio de Nossa Senhora da Conceição, padroeira dos católicos santarenos, já teve três locais de saída durante as 96 edições: igreja São Sebastião, igreja São Raimundo Nonato, e igreja do Santíssimo Sacramento.
O atual local de saída (igreja São Sebastião) também foi o primeiro de que se tem notícia.
Segundo o historiador e padre Sidney Canto, o mais antigo trajeto, no final da década de 1910, foi: Praça São Sebastião, Avenida Rui Barbosa, Travessa 15 de Novembro, Rua Floriano Peixoto, Praça Rodrigues dos Santos, Rua Doutor Colares (atualmente Siqueira Campos) e Praça Monsenhor José Gregório (onde está a Catedral).
Ao longo dos anos, o trajeto foi sendo modificado de acordo com as necessidades. Às vezes, apenas algumas ruas foram modificadas devido às condições estruturais da via. Em outras edições, houve modificação no trajeto inteiro.
Na década de 1920, houve pelo menos duas mudanças. A primeira foi a saída da procissão, que passou a ser da igreja São Raimundo Nonato. O trajeto era composto ainda pela Rua 24 de Outubro, Praça Rodrigues dos Santos, Rua Floriano Peixoto, Travessa 15 de Novembro, Rua Dr. Colares até à Catedral. A segunda mudança foi o retorno da saída da procissão à igreja São Sebastião, mudando novamente o percurso em 1928.
Durante as décadas de 1930 e 1940, segundo Canto, outras ruas foram introduzidas ao trajeto e outras retiradas, mas entre as décadas de 1950 e 1970, o Círio passou a ter o seguinte itinerário: Avenida Adriano Pimentel, Rua Senador Lameira Bittencourt, Praça Monsenhor José Gregório, Praça da Bandeira, Praça Dr. Rodrigues dos Santos, Rua 24 de Outubro, Travessa Silva Jardim, Avenida Mendonça Furtado, Travessa Barão do Rio Branco, Avenida São Sebastião, Travessa 15 de Agosto, Rua Siqueira Campos até a Catedral.
Com a pavimentação asfáltica da Avenida Tapajós, em 1981, o trajeto passou a englobar a Avenida Adriano Pimentel, Avenida Barjonas de Miranda, Mendonça Furtado, Turiano Meira, Francisco Corrêa, Siqueira Campos e Catedral. No ano seguinte, foram introduzidas as avenidas Cuiabá, São Sebastião, entrando na Barão do Rio Branco até chegar à Catedral.
Em 1985, a procissão passou a adotar o percurso atual, saindo da igreja São Sebastião (Praça Barão de Santarém), seguindo pelas avenidas São Sebastião, Cuiabá e Tapajós, até chegar à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição (Catedral), totalizando quase 6,5 km.

Porém, esse trajeto não foi continuo nos últimos 29 anos. Em 2003, a procissão começou a sair da igreja do Santíssimo Sacramento, no bairro Santíssimo, devido ao centenário da Diocese de Santarém. Com isso, o Círio passou a ter o itinerário: Praça do Santíssimo, Travessa Professor José Agostinho, Avenida Borges Leal, Travessa Barjonas de Miranda, Praça Tiradentes, Avenida Tapajós até a Catedral. Esse local de saída se repetiu em 2005, por decisão do Conselho de Presbíteros, e uma pequena alteração em relação a 2003: Travessa Silvino Pinto, ao invés de a Barjonas de Miranda; Avenida São Sebastião e Travessa Assis de Vasconcelos, seguindo o percurso normal.
No ano seguinte, a procissão voltou a fazer o percurso atual.
Elementos de devoção
Para a professora de História, Liduína Maia, um dos importantes elementos do Círio é a oração do terço. “Essa romaria do início ao fim é conduzida através da oração do terço. Isso é o que leva, o que conduz toda a caminhada”, ressalta.
A corda é outro elemento que tem um significado especial para os fiéis que acompanham o Círio. “A corda é como se fosse o cordão umbilical que liga os fiéis à Nossa Senhora. Segurar a corda é estar tocando em Maria”, compara a professora.
Liduína também destaca as homenagens que os devotos de Nossa Senhora realizam em frente às casas durante a passagem da romaria. “A homenagem mais comum e que permanece nos dias atuais é enfeitar a frente das casas, principalmente as janelas e colocar as toalhas na mesa do altar e até mesmo nas janelas, isso é um costume português que é feito até hoje”.
Tradições perdidas
A professora de História acredita, que entre as perdas do Círio no decorrer dos anos, está o fato de as missas, em vários dias de festa, serem realizadas dentro da igreja, atendendo um público menor do que antigamente, quando as celebrações eram feitas em frente a igreja. “A cada festa traziam pregadores de fora que participavam da festa durante as nove noites do Círio, a comunidade ia para escutar esses pregadores. Era feito um palanque em frente da igreja matriz. Hoje a missa fica restrita dentro da igreja onde ficam menos de 30% dos fiéis que gostariam de participar dessa missa. Só no dia da caminhada do Círio e no último dia que a missa é fora da igreja. Do ponto de vista da professora, o Círio perdeu muito quando deixou de trazer os pregadores, e quando a missa deixou de ser do lado de fora da igreja, fazendo com que deixasse de ser um momento de evangelização maior”.
Segundo Liduína, o Círio Fluvial, como parte das festividades de Nossa Senhora da Conceição, perdeu um pouco de força no decorrer dos anos. “Antes, o Círio Fluvial, a manifestação de pessoas que trabalhavam no rio era muito forte. A quantidade de embarcações, a maneira como enfeitavam os barcos era uma coisa estonteante que enchia os olhos de quem via aquela devoção. Hoje, o Círio Fluvial está muito aquém do que era nos anos 70, essa tradição se perdeu muito”, avalia a professora.
Círio das Crianças
O Círio das Crianças foi criado em 2007. A procissão sai da Igreja de São Raimundo Nonato com destino à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Acompanhada de seus pais, crianças acompanham a imagem da padroeira em um percurso mais curto do que o do Círio Oficial. Neste ano a procissão foi realizada no dia 16 de novembro.
Círio 2014
As festividades de Nossa Senhora da Conceição em Santarém neste ano iniciam no domingo (23) e encerram no dia dedicado à padroeira, 8 de dezembro, com a tradicional queima de fogos.
No decorrer dos anos, a festividade passou por várias adaptações, como mudanças no trajeto da procissão.  O público que acompanha o Círio cresceu consideravelmente e atualmente é considerada a maior procissão pública do oeste do Pará, chegando a reunir cerca de 200 mil fiéis durante a romaria de mais de três horas.

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