Conheça um pouco da história do Círio de Nossa Senhora da
Conceição realizado em Santarém
(Kedma Araújo - João Machado Do G1 Santarém)
No domingo (23/11/2014), Santarém, no oeste do Pará, realiza
umas das maiores manifestações religiosas da região, o Círio de Nossa Senhora
da Conceição.
Círio nos moldes atuais é realizado desde 1919.
A origem das homenagens à padroeira está relacionada com a
fundação do município.
De acordo com estudiosos do assunto, o fundador da cidade
padre João Felipe Bettendorff construiu a igreja da Missão do Tapajós e dedicou
à santa, de quem era devoto.
Alguns historiadores apontam que a princípio as homenagens à
padroeira dos santarenos eram conhecidas como “Círio da Bandeira”, em qual
durante a procissão se levava um estandarte com uma efígie da santa -
representação numa moeda, pintura ou escultura - que percorria algumas ruas de Santarém. Tal
manifestação teria dado origem ao que atualmente se chama "Círio de Nossa
Senhora da Conceição".
Nas primeiras horas da manhã, uma banda de música percorria
as ruas da cidade e foguetes anunciavam a festa (Padre Sidney Canto no Livro 'A festa
da padroeira de Santarém).
Segundo pesquisadores e historiadores da região, o Círio
como é realizado nos dias atuais, acontece desde 28 de novembro de 1919.
Portanto este ano, será a 96ª edição do evento religioso.
No livro “A festa da
padroeira de Santarém”, o padre Sidney Canto retrata que o Círio era esperado
com ansiedade pela população da cidade. Nas primeiras horas da manhã, uma banda
de música percorria as ruas da cidade e foguetes anunciavam a festa. “Com uma
frondosa alvorada que, muitas vezes, era acompanhada pelo toque dos sinos das
igrejas de São Raimundo, da Catedral e de São Sebastião, na época em que a zona
urbana de Santarém não passava da Mendonça Furtado e da Barjonas de Miranda”,
conta.
Segundo Sidney Canto, em 1957 e 1958, o Círio não teve banda
de música e nem foguetes. “Isso por uma ideia do clero de que o Círio deveria
ser feito apenas com oração e sem ‘queimar dinheiro com fogos’”, explica.
Canto comenta que a participação do clero na procissão da
festividade começou a diminuir no período 1960 e 1980. Os padres retornaram a
participar somente na década de 1990. “O Círio era visto, por alguns padres da
Diocese, como ‘alienação’, ‘peleguismo’, ‘devocionismo’. A partir da década de
1990, os padres retornaram a participar da festa que passou a sair do caráter
simplesmente paroquial e a ser pensada como uma festa da Diocese”.
O Círio de Nossa Senhora da Conceição, padroeira dos
católicos santarenos, já teve três locais de saída durante as 96 edições:
igreja São Sebastião, igreja São Raimundo Nonato, e igreja do Santíssimo
Sacramento.
O atual local de saída (igreja São Sebastião) também foi o
primeiro de que se tem notícia.
Segundo o historiador e padre Sidney Canto, o mais antigo
trajeto, no final da década de 1910, foi: Praça São Sebastião, Avenida Rui
Barbosa, Travessa 15 de Novembro, Rua Floriano Peixoto, Praça Rodrigues dos
Santos, Rua Doutor Colares (atualmente Siqueira Campos) e Praça Monsenhor José
Gregório (onde está a Catedral).
Ao longo dos anos, o trajeto foi sendo modificado de acordo
com as necessidades. Às vezes, apenas algumas ruas foram modificadas devido às
condições estruturais da via. Em outras edições, houve modificação no trajeto
inteiro.
Na década de 1920, houve pelo menos duas mudanças. A
primeira foi a saída da procissão, que passou a ser da igreja São Raimundo
Nonato. O trajeto era composto ainda pela Rua 24 de Outubro, Praça Rodrigues
dos Santos, Rua Floriano Peixoto, Travessa 15 de Novembro, Rua Dr. Colares até
à Catedral. A segunda mudança foi o retorno da saída da procissão à igreja São
Sebastião, mudando novamente o percurso em 1928.
Durante as décadas de 1930 e 1940, segundo Canto, outras
ruas foram introduzidas ao trajeto e outras retiradas, mas entre as décadas de
1950 e 1970, o Círio passou a ter o seguinte itinerário: Avenida Adriano
Pimentel, Rua Senador Lameira Bittencourt, Praça Monsenhor José Gregório, Praça
da Bandeira, Praça Dr. Rodrigues dos Santos, Rua 24 de Outubro, Travessa Silva
Jardim, Avenida Mendonça Furtado, Travessa Barão do Rio Branco, Avenida São
Sebastião, Travessa 15 de Agosto, Rua Siqueira Campos até a Catedral.
Com a pavimentação asfáltica da Avenida Tapajós, em 1981, o
trajeto passou a englobar a Avenida Adriano Pimentel, Avenida Barjonas de
Miranda, Mendonça Furtado, Turiano Meira, Francisco Corrêa, Siqueira Campos e
Catedral. No ano seguinte, foram introduzidas as avenidas Cuiabá, São
Sebastião, entrando na Barão do Rio Branco até chegar à Catedral.
Em 1985, a procissão passou a adotar o percurso atual,
saindo da igreja São Sebastião (Praça Barão de Santarém), seguindo pelas
avenidas São Sebastião, Cuiabá e Tapajós, até chegar à Igreja Matriz de Nossa
Senhora da Conceição (Catedral), totalizando quase 6,5 km.
Porém, esse trajeto não foi continuo nos últimos 29 anos. Em
2003, a procissão começou a sair da igreja do Santíssimo Sacramento, no bairro
Santíssimo, devido ao centenário da Diocese de Santarém. Com isso, o Círio
passou a ter o itinerário: Praça do Santíssimo, Travessa Professor José
Agostinho, Avenida Borges Leal, Travessa Barjonas de Miranda, Praça Tiradentes,
Avenida Tapajós até a Catedral. Esse local de saída se repetiu em 2005, por
decisão do Conselho de Presbíteros, e uma pequena alteração em relação a 2003:
Travessa Silvino Pinto, ao invés de a Barjonas de Miranda; Avenida São
Sebastião e Travessa Assis de Vasconcelos, seguindo o percurso normal.
No ano seguinte, a procissão voltou a fazer o percurso
atual.
Elementos de devoção
Para a professora de História, Liduína Maia, um dos importantes elementos do Círio é a oração do
terço. “Essa romaria do início ao fim é conduzida através da oração do terço.
Isso é o que leva, o que conduz toda a caminhada”, ressalta.
A corda é outro elemento que tem um significado especial
para os fiéis que acompanham o Círio. “A
corda é como se fosse o cordão umbilical que liga os fiéis à Nossa Senhora. Segurar
a corda é estar tocando em Maria”, compara a professora.
Liduína também destaca as homenagens que os devotos de Nossa
Senhora realizam em frente às casas durante a passagem da romaria. “A homenagem
mais comum e que permanece nos dias atuais é enfeitar a frente das casas,
principalmente as janelas e colocar as toalhas na mesa do altar e até mesmo nas
janelas, isso é um costume português que é feito até hoje”.
Tradições perdidas
A professora de História acredita, que entre as perdas do
Círio no decorrer dos anos, está o fato de as missas, em vários dias de festa,
serem realizadas dentro da igreja, atendendo um público menor do que
antigamente, quando as celebrações eram feitas em frente a igreja. “A cada
festa traziam pregadores de fora que participavam da festa durante as nove
noites do Círio, a comunidade ia para escutar esses pregadores. Era feito um
palanque em frente da igreja matriz. Hoje a missa fica restrita dentro da
igreja onde ficam menos de 30% dos fiéis que gostariam de participar dessa missa.
Só no dia da caminhada do Círio e no último dia que a missa é fora da igreja.
Do ponto de vista da professora, o Círio perdeu muito quando deixou de trazer
os pregadores, e quando a missa deixou de ser do lado de fora da igreja,
fazendo com que deixasse de ser um momento de evangelização maior”.
Segundo Liduína, o Círio
Fluvial, como parte das festividades de Nossa Senhora da Conceição, perdeu
um pouco de força no decorrer dos anos. “Antes, o Círio Fluvial, a manifestação
de pessoas que trabalhavam no rio era muito forte. A quantidade de embarcações,
a maneira como enfeitavam os barcos era uma coisa estonteante que enchia os
olhos de quem via aquela devoção. Hoje, o Círio Fluvial está muito aquém do que
era nos anos 70, essa tradição se perdeu muito”, avalia a professora.
Círio das Crianças
O Círio das Crianças foi criado em 2007. A procissão sai da
Igreja de São Raimundo Nonato com destino à Igreja Matriz de Nossa Senhora da
Conceição. Acompanhada de seus pais, crianças acompanham a imagem da padroeira
em um percurso mais curto do que o do Círio Oficial. Neste ano a procissão foi
realizada no dia 16 de novembro.
Círio 2014
As festividades de Nossa Senhora da Conceição em Santarém
neste ano iniciam no domingo (23) e
encerram no dia dedicado à padroeira, 8
de dezembro, com a tradicional queima de fogos.
No decorrer dos anos, a festividade passou por várias
adaptações, como mudanças no trajeto da procissão. O público que acompanha o Círio cresceu
consideravelmente e atualmente é considerada a maior procissão pública do oeste
do Pará, chegando a reunir cerca de 200 mil fiéis durante a romaria de mais de
três horas.